quinta-feira, 11 de maio de 2023

O nosso livro

 Esperei-te tanto. Talvez demais.

Houve momentos em que senti mesmo que o nosso sentir era igual. Mas agora, olhando para trás, foram mais os dias em que senti o contrário, esperando o mesmo. Mas sempre que chamavas por mim com mais vontade, lá estava eu a esquecer-me do que não me queria lembrar.

Se excluir os tempos em que fui apenas o teu amuleto da sorte, os tempos em que secretamente me mentia enquanto tentava encontrar um sitio onde me encaixar verdadeiramente em ti, então o tempo foi curto.

E eu sabia, sempre soube. Que por detrás do sorriso, eu não era uma prioridade.

 Nunca fui.

 Era algo adquirido, tomado como certo, eu sabia-o e tu negavas. E a culpa é toda minha. 

Porque fui eu que permiti. Fui eu que alimentei tudo isso enquanto tu negavas e ficavas zangado comigo, de testa franzida quando as palavras me saiam porque não consigo mascarar o que sinto, quando sinto. 

Mas era verdade. Era verdade e eu sabia. E tu negavas. Não me conformo ao saber que sabias tão bem quanto eu.

O tempo vai passar e sei que vou sentir a tua falta. Sei que vou lembrar-te em todo o lado. nas musicas, nas roupas, nos cheiros, nos dias que não vivemos, nas memórias que eu não deixei morrer e que tu dissolveste na tua espécie de memória de peixe.

O tempo vai passar e sei que vou chorar. Hoje mais, amanhã um pouco menos, no dia seguinte menos um pouco. E vai haver o dia em que me vou esquecer de chorar, como se a minha cabeça deixa-se a tua memoria exausta.

 Só me vou lembrar de ti à noitinha, e aí terei a confirmação de que arrumei o nosso livro.

Vou guarda-lo com carinho mas não o volto a abrir.
Porque posso (ainda) não saber para onde vou, mas com certeza que sei para onde não quero voltar.


sábado, 22 de agosto de 2020

Fort Malta - Pra o topo é o caminho

 Chamam-se Fort Malta e é por terras angolanas que já dão cartas no mundo do hip-hop.

Portugal🇵🇹 & Angola🇦🇴 em trabalho 💪🏿🎵✍🏻🌏

Aos 15 anos, Castello Platinah, G Clássico e Baby Black, são 3 amigos de escola que se uniram em 2019 para criar as suas próprias letras, seguindo os passos de grandes nomes do hip-hop angolano como Prodígio, dos afamados Força Suprema. 

Positivismo, força, fé e foco estão bem marcados no single "Pra o topo é o caminho", que já está disponível para download gratuito no MediaFire.  É só clicar AQUI.

Com a fome de vingar que lhes é característica, esperam-se novidades já para o final do próximo mês. Podem ficar a par de tudo pelo Facebook, com a certeza de que ainda vamos ouvir falar muito nestes meninos cá em Portugal🌟




quarta-feira, 19 de agosto de 2020

Monólogo

 Cada um colhe exactamente o que plantou. Sim os conselhos ajudam, mas tu é que vais ficar responsável pelo caminho que escolheres. Tenta viver com a tua consciência porque não sou eu nem outra pessoa que vai poder prestar contas por ti depois.

Uma mente cansada não pensa direito, aproveita a hora do teu banho e faz também uma higiene mental.

Levanta a cabeça! Quero ver-te os olhos. Não fiques triste. Por quanto tempo vais ficar assim a queixares-te do mundo dos outros? Caminha segura e olha para os teus pés enquanto o fazes. Quando deres por ti, os que paravam para te olhar já te perderam de vista faz muito tempo. Mantém a tua consciência tranquila mesmo que todos os olhos te possam condenar. Tudo tem uma hora própria, o dia tem hora para ser dia e a noite tem hora para ser noite. A raiva faz-te mal á saúde e não te assenta bem. Deixa-me. Ver-te os olhos.

Vou descobrir a estrada e segui-la com os meus próprios pés. O passado já não é meu e agora a palavra final é minha. Se cair vão ser os meus joelhos a sangrar e vou ser eu a levantar-me. Porque, sabes, sou o que me tornei e não o que fizeste de mim. Não me vou distrair mais com as flores bonitas porque muitas delas só duram uma dúzia de horas. Aprendi contigo que o mundo não é mau as pessoas é que ainda não aprenderam a ser boas. És um herói, comporta-te como um herói.

Ok, era suposto eu desistir agora? Era suposto eu agora desistir? Fecho os olhos. Abro os olhos. Tudo igual. Fecho os olhos com muita força. Abro. Tudo igual. Corro para me esconder na muralha fortificada, intransponivel e segura. Enfio-me na cama. Quero sentir-me a salvo. Não sei como e preciso. Abro os olhos com força. Agora fecho. Não vejo nada. Abro e fecho devagarinho. Abro. Real. Fecho. Adormeço. Vou abrindo e fechando devagarinho, hora caindo na realidade ora ficando adormecida. Para não sentir. Sentir.
Não quero sentir. Ainda."

sexta-feira, 7 de agosto de 2020

Maria II


A avó nasceu em 1933 e nunca foi à escola. Aposto que teria sido genial se o tivesse feito. Fazia contas de cabeça que eu fazia na calculadora. Reconhecia palavras nos seus livros de religião quando me sentava ao lado dela para lhe ler um pouco. Sabia para quem eram as cartas que o carteiro trazia. E já sabia escrever  o nome. Por vezes dava com ela a treinar, num cantinho de um guardanapo, devagarinho, com a letra o mais cuidada que conseguia. Quando lhe corria bem, mostrava-me orgulhosa "vê lá se é assim que se faz".

Usava o telefone com normalidade, fixo, que as tecnologias já eram coisas a mais que "não eram para a idade dela". Os números de telefone que não sabia de cor, estavam escritos em papelinhos diferentes que ela fixava o destinatário e depois, cuidadosamente, marcava no telefone.

A avó sabia e ensinava coisas que não vinham nos livros nem se aprendiam na escola. Já disse que ela não ia ao Google nem precisava de tecnologias. O seu máximo capricho era uma telenovela brasileira antes do dia terminar. 

Ela não tinha a teoria, mas tinha a prática, a preciosa experiência. Como não sabia escrever, era na cabeça que guardava bem vivas todas as datas importantes (e outras que ninguém se dá ao trabalho de fixar). E eu, eu adorava ficar ali, só a ouvir. Mesmo que já tivesse ouvido a mesma coisa uma datas de vezes.
Nunca me cansava dela.

Quando cozinhava, a cozinha cheirava a amor. A comida sabia a amor.
Foi ela que me ensinou a safar-me nesse campo.

O casamento com o meu avô durou mais de 60 anos, até que que a morte chegou para ele, um ano antes de chegar para ela também. Ficou um caco, o cancro ao lado da perda do meu avô não era nada. A morte dele veio lembrar-me que afinal eles não eram tão imortais assim, e veio também debilita-la ainda mais. 
60 anos.
Lembro-me como ela pedia a Deus para ser a primeira a partir, nem que fosse 5 minutos antes dele. Não consigo imaginar a dor de perder um companheiro de tanto tempo. Talvez seja semelhante a perder uma parte do corpo, pior do que saber que se tem um cancro dentro dele.

Eles viveram numa época em que as meias rotas eram cozidas à mão. Só se compravam novas para "os dias bons", a "roupa de sair", "roupa do domingo". As coisas arranjavam-se, encontravam-se soluções, perdia-se tempo a cuidar daquilo que lhes era importante e útil. 

Talvez tivessem sido gestos de cuidado como este que os manteve juntos durante tanto tempo.
Hoje já não se cosem as meias rotas. 
Nem os casamentos duram 60 anos.

quarta-feira, 22 de julho de 2020

Maria

Por melhor que viesse a ultrapassar tudo o que estava a acontecer, sabia que tudo estava prestes a mudar da noite para o dia. Achava que já sabia qual seria o impacto que iria causar em mim enquanto pessoa. Mas a expressão "por melhor que viesse a ultrapassar" não tinha jeito de ser. Não há "melhor maneira" e "ultrapassar" é algo muito vago. Ficam as memórias.
Memórias.

A avó era tudo o que ainda restava das boas memórias de infância, das felizes, das realmente felizes. Era o único motivo válido para ainda querer fazer daquela casa a minha morada. A mesma casa que à tão pouco tempo atrás tinha calor, era aconchegante por ti. O cheiro das coisas, da madeira, do ar ainda era o mesmo. Mas faltavas tu.

Por ali a vida tinha acabado. Já não havia pombos nem passarinhos ou plantas bem cuidadas. O canário amarelo já não vivia na gaiola na janela da cozinha, para te responder carinhosamente quando lhe atiravas beijos. Lembro-me da maneira como expressavas o teu amor por ele e como pedias desculpa a Deus por o manteres numa gaiola.

Por vezes, mesmo já passado algum tempo, ainda dava por mim  com a ideia de que te ia encontrar sentada à mesa da cozinha, com 2 chávenas de café com leite, uma delas à minha espera, ou sentada na bordinha da cama com um terço na mão, a rezar para dentro, por todos. Menos por ti. Desconfio que muitos pelos quais ela rezava nem se lembravam dela tanto assim. Esses mesmos que agora, no fim das contas, te tentam compensar com flores e orações.
Mas tu já não estás. E não vais estar mais.
E eu, sem sabe-lo, sabia.
E isso então era morrer.

Perder a avó foi bem mais que um murro no estômago. Na verdade, a morte sempre esteve à espreita desde que me lembro de mim, para lá do meu nascimento. A avó partilhava o seu corpo com aquele maldito cancro à mais de 30 anos. Conhecia-lhe os medicamentos que tomava religiosamente todos os dias, a todas as refeições. 11 ao pequeno-almoço. Só que, apesar do tempo ter ido passando e eu indo crescer, ainda vivia naquela ilusão de que as coisas eram "normais" assim, a avó ia ficar ali do meu lado para sempre, como se fosse imortal.  Afinal de contas, eu já a tinha visto curvar a barreira dos 80, sempre com a mesma carinha, com aquele ar tão fresquinho que ela sempre negava .
E ria comigo. Fazia-me rir. E rezava. 

A avó tinha sempre uma solução, uma palavra de conforto, um conselho, um miminho. lembro-me de, em pequena, chegar da escola e sempre lhe dizer que achava que tinha apanhado piolhos. Ela já conhecia a minha manha, sabia que eu só queria que ela me desse miminhos no cabelo. Era um bocado impossível apanhar piolhos dia sim, dia não. Lá se sentava ao meu lado, com a minha cabeça no seu colo, a procurar os piolhos que sabia não existir.

A minha avó (e o meu avô, mas isso é para outro título) morava no rés-de-chão e nós no primeiro andar. Não me lembro de uma única vez que tenha vindo da escola e ter subido a escada para minha casa sem antes entrar na dela primeiro.

Por falar em escola...
                                               
   

sábado, 15 de fevereiro de 2020

7 Coisas que te indicam que já és um adulto

Para mim a idade não é mais do que um número. Nós amadurecemos com o tempo e não numa idade concreta. Tudo tem a ver com as marés da nossa vida ao longo dos anos. Há pessoas de 16 anos mais maduras que certos meninos-da-mamã de 30.
Por isso hoje falamos de...



  1. Compras o teu primeiro electrodoméstico. Este é sem dúvida um começo. Nenhum adolescente prefere um bom microondas em vez de um par de ténis novo.
  2. As contas para pagar chegam em teu nome. Habitua-te, estás oficialmente por tua conta.
  3. O detergente da roupa está em promoção. E tu, feliz da vida lá vais aproveitar e compras logo 2.
  4. Desejas que amanhã faça bom tempo para poderes estender a roupa. Esta nem precisa de comentário. É o meu prato do dia.
  5. A semana passa rápido demais e quando dás por ti já é Natal outra vez. Já??
  6. A maior preocupação da tua vida já não é o teu crush. Agora lembras aqueles lenços de papel na mesinha de cabeceira e dá-te vontade de rir.
  7. Os desconhecidos já não te tratam por tu. Inicialmente pode ser doloroso.
O importante é que aproveites ao máximo cada etapa da tua vida. Quando se fecha uma porta abre-se uma janela e, hoje o que parece ser o fim do mundo, amanhã vai-te provar que foi útil para um novo começo. 

Falando a sério, ser adulto até que não sabe assim tão mal... pois não?

sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

3 semanas em post | O Bernardo nasceu!

Estou de volta.
Queria não ter demorado tanto tempo a voltar, praticamente 3 semanas, mas demorei. 
O Bernardo nasceu no dia 9 de Dezembro.

Precisei de "parar". Permiti-me a deixar de lado os ecrãs, telemóveis e até pessoas. Na realidade não parei, bem pelo contrário. Dou de mamar a cada 3 horas, troco fraldas e dou colo enquanto o meu café fica frio. Tento dar à Di a mesma atenção que dava antes, tempo de qualidade entre nós, mas não tanto como gostaria de estar a conseguir dar, com a mesma calma e paciência. A história antes de dormir é interrompida por uma cólica  e acabo por ler com ele ao colo, rezando para que não rebente a chorar quando ela já está quase a fechar as pestanas.
 Finalmente a Di adormece, não tão cedo como queria, porque o espírito do Natal baralhou a hora da chegada do João Pestana e ainda não conseguimos retomar... porque desligo o despertador de manhã e agradeço a Deus por ela dormir para lá das 7 e meia. 
Tenho roupa para organizar e dobrar, ervas a crescer no quintal. 
Quero limpar o frigorífico e preciso de fazer as sobrancelhas com urgência.
Por vezes, sinto-me como se fosse uma bomba com um rastilho curto e quando peço ajuda sinto que estou a falhar. Questiono as minhas habilidades enquanto mão e choro sem ninguém ver porque quero chegar a todo o lado mas ainda acabo o dia com os pontos da episiotomia e os meus ossos a gritar. Se não tiver de sair de casa, é garantido que o meu cabelo vai estar preso com um elástico qualquer, provavelmente até algum da Di que esteja mais à mão, e o meu banho vai ser tomado quando o dia chegar ao fim e todos forem para a cama... com a forte probabilidade de mais uma cólica pelo meio.

Sei que é uma fase.
Sei que daqui por uns tempos já não vai ser da mesma maneira, que as noites serão diferentes e que as dificuldades de hoje serão substituídas por outras diferentes. Sinto-me esgotada e ao mesmo tempo não trocava isto tudo por nada. Exactamente por saber que tudo isto são fases, que é passageiro. É um desafio. A experiência mais desafiante de todas. 
Sei que não tenho a casa tão organizada como queria, que tenho trabalhos de férias pendentes para fazer com a Di, que lhe dei snacks fora de horas para me facilitar o malabarismo--- mas também sei que estou a ser a melhor mãe que consigo e que estamos todos em fase de adaptação.  

E que é uma fase.
E que há muitas, muitas mas mesmo muitas mulheres a passarem por todo este turbilhão de emoções e desafios enormes, a fazerem as mesmas questões interiores, a chorarem sem ninguém ver por sentirem que não estão a conseguir lidar com tudo. 
Chama-se puerpério e é uma fase. 

Mas hoje, independentemente de dormir 3 horas ou 5, sei que pelo menos consegui dar um passo maior. Este post foi escrito do fundo do coração, entre cólicas e mamadas,  como um desabafo e um " não somos um caso único e vai ficar tudo bem", para mais Filipas que possam haver por aí do outro lado.

Vai ficar tudo bem.
Estou a fazer o melhor que consigo fazer. E aí deixo de ter dúvidas de que sou uma boa mãe.


O nosso livro

 Esperei-te tanto. Talvez demais. Houve momentos em que senti mesmo que o nosso sentir era igual. Mas agora, olhando para trás, foram mais o...

Outros dias