quinta-feira, 11 de maio de 2023

O nosso livro

 Esperei-te tanto. Talvez demais.

Houve momentos em que senti mesmo que o nosso sentir era igual. Mas agora, olhando para trás, foram mais os dias em que senti o contrário, esperando o mesmo. Mas sempre que chamavas por mim com mais vontade, lá estava eu a esquecer-me do que não me queria lembrar.

Se excluir os tempos em que fui apenas o teu amuleto da sorte, os tempos em que secretamente me mentia enquanto tentava encontrar um sitio onde me encaixar verdadeiramente em ti, então o tempo foi curto.

E eu sabia, sempre soube. Que por detrás do sorriso, eu não era uma prioridade.

 Nunca fui.

 Era algo adquirido, tomado como certo, eu sabia-o e tu negavas. E a culpa é toda minha. 

Porque fui eu que permiti. Fui eu que alimentei tudo isso enquanto tu negavas e ficavas zangado comigo, de testa franzida quando as palavras me saiam porque não consigo mascarar o que sinto, quando sinto. 

Mas era verdade. Era verdade e eu sabia. E tu negavas. Não me conformo ao saber que sabias tão bem quanto eu.

O tempo vai passar e sei que vou sentir a tua falta. Sei que vou lembrar-te em todo o lado. nas musicas, nas roupas, nos cheiros, nos dias que não vivemos, nas memórias que eu não deixei morrer e que tu dissolveste na tua espécie de memória de peixe.

O tempo vai passar e sei que vou chorar. Hoje mais, amanhã um pouco menos, no dia seguinte menos um pouco. E vai haver o dia em que me vou esquecer de chorar, como se a minha cabeça deixa-se a tua memoria exausta.

 Só me vou lembrar de ti à noitinha, e aí terei a confirmação de que arrumei o nosso livro.

Vou guarda-lo com carinho mas não o volto a abrir.
Porque posso (ainda) não saber para onde vou, mas com certeza que sei para onde não quero voltar.


O nosso livro

 Esperei-te tanto. Talvez demais. Houve momentos em que senti mesmo que o nosso sentir era igual. Mas agora, olhando para trás, foram mais o...

Outros dias